Homens envelhecem mais rápido

Eles se julgam menos vulneráveis, resistem mais às mudanças na vida cotidiana e não se adaptam facilmente às situações adversas. Algumas dessas características do comportamento masculino são consideradas pelos especialistas em envelhecimento como o motivo número um para que os homens ainda vivam menos — e, muitas vezes, pior — do que as mulheres na terceira idade.

A princípio, pode parecer estranho que uma simples alteração de atitude e não necessariamente privilégios biológicos ou sociais seja a chave para aumentar a expectativa de vida dos homens. De acordo com especialistas que participaram do 1º Simpósio Brasileiro sobre Saúde e Envelhecimento Masculino, é justamente essa mudança de comportamento que faz a diferença entre os sexos na hora de conquistar uma vida saudável depois dos 50 anos.

Atos como procurar um médico assim que sentem uma dor ou observam uma pinta diferente no corpo não costumam entrar na agenda da maior parte dos homens. E é aí que mora o perigo. Quando chegam ao especialista, em geral, a situação já está bem complicada. "A mulher vai prevenir e o homem consertar", afirma a endocrinologista Ana Maria Martits, organizadora do simpósio.

Segundo ela, existem três situações capazes de levar um homem ao médico. A primeira quando ele está muito doente e não pode sequer trabalhar. A segunda acontece quando a mulher insiste muito para que procure ajuda. E a terceira quando apresenta qualquer problema de impotência sexual. "Encarar a consulta médica como rotina ainda é um problema e tanto para os homens", diz Ana Maria.

Nesse quesito, elas saem na frente. Acostumadas com o termo prevenção, as mulheres não têm qualquer dificuldade em ir o médico. Ao contrário. Elas são promotoras de saúde também da família. Por isso, previnem-se mais contra as doenças crônico-degenerativas, costumam tratar o câncer em estágios iniciais e sentem-se mais seguras com o termo terceira idade, incluindo a importância de seu papel social. "O homem resiste mais à prevenção e se sente menos suscetível às doenças", explica Wilson Jacob Filho, diretor do serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas. "Na prática, isso faz deles pessoas mais frágeis e predispostas a fatores de risco como obesidade, tabagismo e aumento do colesterol."

Para se ter uma idéia, segundo Jacob Filho, eles demoram o dobro de tempo para procurar ajuda se comparados com elas. Além disso, o homem na terceira idade também costuma sofrer com um mal tipicamente feminino: a depressão. "Os homens perdem seu referencial quando deixam de trabalhar e sentem dificuldade em se recolocar na vida cotidiana. As mulheres, por outro lado, cuidam dos netos, viajam e até se matriculam em cursos", completa o especialista.

Se adaptar ao envelhecimento, segundo ele, é o que também faz as mulheres terem uma velhice, na maioria das vezes, mais lenta e tranqüila do que os homens. As principais características de que algo não vai bem nessa fase da vida são sinais como desânimo, baixa auto-estima, desinteresse e estresse. "Os homens ainda precisam viver de uma maneira mais positiva e ver que a vida não acabou com a aposentadoria", aconselha Jacob Filho.

Expectativa de vida deles continua menor - Durante muito tempo, a diferença entre a expectativa de vida de homens e mulheres foi relacionada principalmente sobre as atividades que cada sexo desenvolvia no cotidiano. O fato de não trabalhar e estar menos suscetível ao estresse, por exemplo, faria com que as mulheres vivessem mais. Na prática, elas entraram com força no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, também estão mais expostas ao tabagismo, sedentarismo, álcool e estresse.

Por essa teoria, a diferença entre a expectativa de vida de homens e mulheres deveria estar diminuindo nos últimos anos. Mas o que está acontecendo é justamente o contrário. No início do século 20, as mulheres viviam, em média, 55 anos, contra 50 anos dos homens. Atualmente, a expectativa de vida delas é de 77 anos, enquanto que a deles fica em 70 anos, o que significa que esta diferença está aumentando.

Para Wilson Jacob Filho, esses números demonstram que a diferença de comportamento entre os sexos na hora de cuidar da saúde ainda é o fator principal para tornar o envelhecimento mais tranqüilo. "O comportamento dos homens vai influir na sua forma de lidar com a saúde, de se relacionar com as pessoas e também na sua forma de encarar a velhice".

Segundo ele, uma forma de mudar essa situação é promover campanhas de saúde com foco nos homens. "Se a idéia é estimular a atividade física, por exemplo, isso deve ser feito sempre com o objetivo de alguma competição", afirma. "A mulher vai fazer ginástica porque é bom para a saúde, mas o homem vai principalmente pela competição", completa o especialista.

Hormônio também pode diminuir - A produção do hormônio testosterona costuma diminuir, de forma discreta, quando os homens ultrapassam os 50 anos. Isso é fisiológico e natural. Depois dos 40 anos, a testosterona começa a diminuir cerca de 1% ao ano.

Ao contrário da fase do climatério feminino, a andropausa (chamada de menopausa masculina) é caracterizada por uma série de sintomas e pode acontecer a partir dos 40 anos. Entre os principais estão aumento da proporção de gordura corporal, diminuição da massa muscular, tendência à anemia, tendência à osteoporose, perda de interesse sexual, dificuldade de ereção, dificuldade de concentração, problemas de memória, insônia, irritabilidada e quedade pêlos. A reposição hormonal masculina, no entanto, nem sempre é encarada como uma forma de tratar ou prevenir a andropausa.
Fonte:
Diário de S.Paulo

Um comentário:

  1. Homens vão menos ao médico, não porque são ignorantes. Mas porque é preciso pagar muito caro por uma consulta de cinco minutos ou chegar na fila de madrugada.

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