A chuva

Chuva que molha o asfalto

Chuva que apaga a poeira

Chuva que espanta os pássaros

Chuva que me deixa tristeza.

Chuva: bonita, triste, calada, violenta.

Molhada pela chuva caminho pelo mundo

misturando com lágrimas

sinto a chuva.

Corres ladeira a baixo

enches ruas e vales

misturas as águas do mar,

desces na noite calada.

Deixas muita tristeza,

transformas meu mundo,

viras noites e noites

nadas na correnteza da vida.

Chuva que toca o telhado,

que molhas as plantas selvagens,

que vens na loucura da vida

e toca nas minhas margens.

Cada pingo uma lágrima e

cada um sente a seu modo

a chuva que cai devagarinho

em horas inesperadas.

Tudo se torna frio quando você chega.

Todos se transformam quando você toca.

Quase todos se sentem tristes,

quando a chuva vem de mansinho.

Chuva que chega, que molha,

que me faz chorar.

Chuva que deixa dentro de mim

uma tristeza com uma lágrima .

Chuva, chover, molhar, cair, chuva.

Depois da chuva vem o sol

queimando nossos corpos,

nossas plantas selvagens.

Todos se alegram e com alegria

os pássaros voltam a cantar.

Os olhos secam, a poeira levanta

O homem seca e a vida vai levando.

O sol é bonito, mas eu gosto da chuva

Ela levanta o cheiro gostoso da terra,

ela deixa marcas dentro de mim

de uma natureza viva, real, verdadeira.

É gostoso a chuva.

É gostoso dormir quando a chuva cai,

mas ao mesmo tempo ela é triste

dentro de mim.

Lúcia Almeida

Jornal do Commércio - 25/XII/1979